Conheci uma bióloga do Tamar, a Alice, que, vivendo numa ilha sem grandes opções de entretenimento, tinha no mar tanto o seu local de trabalho quanto seu espaço de lazer.
Com os olhos e reflexos habituados à presença e à movimentação das tartarugas, Alice tinha sua atenção atraída pelos animais, mesmo nas horas de folga, quando a razão dos seus mergulhos deveria ser justamente uma pausa no seu trabalho cotidiano. Para desligar o seu módulo bióloga, a solução foi o surfe. Ela precisava estar acima das ondas para evitar o ímpeto de investigação da vida marinha.
Em suas espionagens, Alice registrou uma interação interessante entre uma tartaruga-de-pente e uma lagosta. A tartaruga nadava até a boca da toca da lagosta, inseria a ponta de uma das nadadeiras ali e esperava. Depois de um tempo, a lagosta saía de sua toca e caminhava sobre a nadadeira comendo o lodo e os parasitas acumulados.
Uma espécie de lava rápido drive-thru.
Esse tipo de relação é chamado de protocooperação: ambos indivíduos são beneficiados, ainda que não dependam da interação para sobreviver. A tartaruga recebe uma limpeza de pele, previne doenças e elimina parasitas, enquanto a lagosta tem comida barata, sem risco e entregue em casa.
A tese de mestrado da Alice, embasada por essas e outras observações, era de que quanto mais variadas e complexas forem as relações biológicas, com presença de interações harmônicas entre diferentes espécies, mais equilibrado é o ecossistema.
Sistemas em desequilíbrio tendem a ser dominados por relações de competição, predação e parasitismo, enquanto ecossistemas saudáveis permitem, também, relações harmônicas como a do exemplo.
Acho que isso podia ser metáfora de alguma coisa.
Um comentário:
e nem precisa ser metáfora quando a gente lembra que é animal e faz parte de ecossistemas, né?
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