Em sua "Poética", Aristóteles define o ofício do poeta como sendo o de representar situações, ambientes e personagens possíveis, em oposição à atividade do historiador, que buscaria a narrativa do que realmente aconteceu. Nesse contexto, poesia e filosofia se aproximam, afirma o filósofo grego, por referirem-se ambas não ao particular, mas ao universal.
No poema 'O guardador de rebanhos', o eu-lírico de Alberto Caeiro define-se poeta e compara sua alma a um pastor que tem por rebanho suas idéias. Outra forma de referir-se à dupla vocação da poesia, tanto para a sistematização do conhecimento humano, quanto para a investigação do mundo natural.
Converter sentimentos em metáforas e objetos em símbolos é meio de acessar um sentido mais profundo e mais perene das experiências cotidianas. Quando um poema fala do escorpião e sua natureza impiedosa e imutável, reproduz uma mitologia que perpassa povos e tempos, territórios e culturas as mais distantes.
Dizer da vida que dura o tempo de um cigarro ressalta o que há de efêmero nessa natureza, enquanto dizer que o morto vira semente enfatiza o que há de cíclico, de renovação. São ambas imagens intuitivas, concisas e populares, próximas ou distantes da realidade a depender do momento e do ponto de vista do observador, mas igualmente válidas, ainda que aparentemente opostas.
Metáforas podem descrever a natureza de arquétipos ancestrais, sem deixar de referir-se por analogia a situações do presente. Escrever (e estudar) poesia é aproximar-se desse esforço coletivo e permanente da humanidade, de distinção entre o transitório e a essência.
É por isso que eu defendo que a poesia não seja eliminada do mundo por Decreto-Lei, e que os poetas, ainda que falsos, perdidos ou pernetas, não sejam fuzilados a priori, (ressalvadas as devidas exceções).
Um comentário:
Não acordei assim tão lírica, mas rasguei alguns verbos: www.expressocomborra.blogspot.com
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