06 outubro 2009

submundo das tartarugas marinhas

Projeto Viramundo, Fernando de Noronha, 24/Julho/2008
Um dia li um texto do Borges que explicava que a primeira tartaruga que existiu, aquela que deu origem ao Planeta Terra, surgiu da luz da constelação de sagitário. Símbolo de longevidade, paciência, proteção, segurança. Era uma justificativa melhor do que a primeira que me lembro para o início da minha fixação por tartarugas.

Michelangelo foi o nome do meu primeiro gato siamês, lá pelos meus 8 anos, não em homenagem ao pintor renascentista, mas sim à tartaruga ninja de máscara laranja. Não tenho certeza o que foi causa e o que foi conseqüência, mas as ninjas passaram e as tartarugas permaneceram na forma de chaveiros, luminárias, bonecos, peças de artesanato.

É pena neste momento não termos uma câmera subaquática. As espécies são conhecidas, documentários e programas educativos sobre a vida marinha são abundantes, mas ficar cara a cara com as raias e nadar com as tartarugas tem sido experiências que eu gostaria de registrar.

O resto da equipe estava em Recife, perdida nas desconexões da Varig, enquanto eu e o Feijão, que desconfiamos desde o princípio da pontualidade da empresa, chegávamos em Noronha. A despeito da chuva que se anunciava, fomos para o Boldró, a praia mais próxima. E ali mesmo, sem máscara de mergulho nem nada, vimos a primeira tartaruga da viagem, emergindo a poucos metros de nós para respirar.

No dia seguinte veria mais uma, descansando num buraco em meio aos corais da Baía dos Porcos. Nesses primeiros encontros fiquei apenas paralisado, sem respirar. Foi aos poucos que comecei a acompanhá-las a distancia.

Hoje já não me sinto tão estrangeiro no mar e estou me acostumando a nadar na presença e no ritmo das tartarugas. Já fiz algumas amigas, como a famosa Mordidinha e duas de-pente juvenis (tartarugas que não atingiram a idade de reprodução e ficam nos arredores da Ilha se alimentando e ganhando peso antes de se jogarem numa corrente transoceânica qualquer), que volta e meia aparecem na Baia dos Porcos ou do Sancho.

Vejo com o encantamento de um pai diante do filho recém nascido as tartarugas-de-pente comendo águas-vivas e corais, respirando, tirando um relax nas pedras, ou só fazendo a ronda pelos corais com os peixinhos coloridos dando uma polida no casco. Se eu soubesse antes que a sistematização das informações coletadas com o acompanhamento destes seres poderia ser uma profissão, é possível que minhas escolhas fossem outras no passado.

Um comentário:

Maria Clara disse...

A-ha!
Sabia que tinha alguma relação entre infância e gato...