31 outubro 2009

espetando pra ver até quando sai sangue

"Se você não precisa mais de mim, isso pode ser resolvido. Mas não diga que não te ajudei a chegar até aqui". - Disse a página arrancada do caderno do cara que temia parecer pedante por escrever em público.

Era como se os olhos das pessoas que passavam por ele, de caderno e caneta em mãos, dissessem "quem você pensa que é para escrever? Você não é escritor".

29 outubro 2009

coisas pra dizer numa entrevista de emprego - especial dinâmica de grupo

- Escolha um animal que melhor defina a sua personalidade.
- Eu escolho o ornitorrinco albino.
- Por quê?
- Porque já respondi essa pergunta cretina trocentas vezes, com todos os animais que eu conheço e nunca me serviu pra porra nenhuma.

contraditório como a vida deve ser

- Não vou fazer agora, mas é só para poder deixar pra mais tarde.

23 outubro 2009

2012 - uma conversa de buteco perto de você

- É... o mundo não tem mais jeito mesmo.
- Você sabe, né, o calendário Maia só vai até 2012.
- Particularmente, eu acho que é porque eles não sabiam contar até 2013
- Eu acho que eles sabiam, mas pensaram que era perda de tempo. Eles nem achavam que a humanidade fosse durar tanto tempo.
- Eles mesmos acabaram bem antes.
- Ah, se eles te ouvem. Cuidado com as profecias, rapaz.
- Essas mudanças no clima são só o primeiro sinal do início da peça.
- Pode crer. Tornado em Santa Catarina, enchentes no nordeste, seca na maior bacia hidrográfica do planeta.
- Tudo muito estranho.
- É, mas ainda acho que o mundo vai acabar em meteoro.
- Se bem que esse lance do clima tem muito a ver com as atividades humanas. O problema é o culto da monogamia, saca: quando nego planta só cana-de-açucar, ou só gado.
- Aí fode.
- Por isso que eu vou cercar meu pedaço de terra em volta de um tanto de água lá em Alto Paraíso e fazer meu bunker.
- Boto fé. Pra ver de camarote a maré subindo e o céu pegando fogo.
- Aí neguinho que não é idiota vai achar que não entendeu.

22 outubro 2009

ser humano: essa caixinha de insatisfações

Quando tudo parece perfeito é porque algo precisa mudar.

19 outubro 2009

discurso paralelo

Eu escutava inquieto o discurso da senhorita, minha coleguinha de curso, que explicava aos pais presentes, provavelmente leigos em assuntos acadêmicos, o quanto ela tinha aprendido no buteco do postinho nas quintas-feiras.

Ah, quantas lembranças... Quantas vezes ela teve de ensinar aos menos instruídos que o diploma que ela receberia naquela noite não era de "ciências políticas", ora vejam só, mas de Ciência Política, sem plural. Afinal, quem é do ramo sabe que ciência é uma só e política não é senão aquilo que ela tinha aprendido, entre uma e outra descoberta juvenil.

Enquanto ela falava, eu repassava mentalmente um discurso paralelo, mais ou menos o seguinte:

"Membros da mesa, colegas formandos, aquele abraço. Primeiramente, eu queria agradecer a Deus por ter me colocado numa boa família que, a muito custo, pagou os melhores colégios particulares caros para que eu tivesse o privilégio de estudar numa Universidade pública gratuita.

Agradeço também à UnB, que carimba de mérito o nosso passaporte para a vida adulta, tornando-nos distintos de todos aqueles que são explorados para que estejamos bem colocados nesta sociedade desigual.

Saúdo o movimento estudantil, a paridade nas eleições do reitor. E se a reputação desta Universidade tiver de ser jogada no lixo com cobranças indevidas de cerimonial e desvio de dinheiro destinado a pesquisa, que ao menos seja jogada numa lixeira de mil reais.

Para encerrar, senhor presidente, deixo aqui um beijo molhado para aqueles que tem pouca familiaridade com a palavra ironia. Obrigado".

14 outubro 2009

personalidade: ou você tem, ou você compra

Escrevemos autobiografias
Idealização a gosto do freguês
Orçamento sem compromisso

09 outubro 2009

Ilhados

“O paraíso é aqui” foi a expressão utilizada por Américo Vespúcio, em 1503, para descrever Fernando de Noronha, no primeiro registro histórico de presença humana na ilha. O naufrágio de uma das naus da “Segunda expedição exploradora” nas proximidades do arquipélago parece não ter abalado o senso estético do navegador de Florença.

No entanto, por mais de um século, a ilha não teve ocupação ordenada, sendo usada eventualmente como entreposto e pit stop por navegadores perdidos ou piratas da região do Caribe.

Foi apenas em 1737 que a Coroa portuguesa, após tentativas frustradas de invasão de ingleses, holandeses e franceses, finalmente iniciou a ocupação definitiva da ilha por seu valor estratégico na defesa nacional.

A ilha, que já foi presídio, hoje vive do turismo ecológico, elevada à categoria de Patrimônio Mundial pela Unesco por conta da biodiversidade marinha e dos diversos institutos de pesquisa sediados ali. Golfinho rotador, baleia jubarte e tartaruga marinha são algumas das espécies estudas.

Pelo seu status de Parque Nacional, são muito restritas atividades econômicas de qualquer natureza, em especial agricultura e pecuária, o que encarece ainda mais o custo de vida no local, já elevado pelo alto custo do transporte oriundo do continente e pela pressão dos dólares do turismo internacional.

O espaço limitado e as regras rígidas para construção e permanência na ilha tornam a moradia um dos principais problemas do local. As pessoas sem educação formal, em geral descendentes de presidiários, militares e pescadores, são as mais afetadas pela dificuldade de adequação aos procedimentos burocráticos exigidos.



O foco do documentário "Ilhados", gravado durante um mês em Noronha, foi a vida dos moradores, as dificuldades e os motivos de permanência na Ilha, geralmente esquecidos pelos turistas (por motivos até compreensíveis) e por outras reportagens, geralmente focadas na beleza do lugar e na exuberância da vida marinha.

Uma produção Projeto Viramundo: João Queirolo, Camilla Shinoda, Cauê Maia, Leonardo Feijão, Melissa Mustefaga, Rebeca Damian.

07 outubro 2009

General Materazzi - Fragmento # 4

Dize sim ao que não é pra hoje
"Visando preservar tua reputação e a confiança que em ti depositam, convém não recusar uma proposta de trabalho futura, ou negar peremptoriamente hoje um favor que te pedem para amanhã, (e menos ainda se for para semana que vem); Ainda que julgues a tarefa superior às tuas capacidades, ou que não desejes realizá-la.

Pois as circunstâncias e as necessidades mudam com o tempo, de modo que, quando o momento chegue, talvez o serviço não seja mais necessário, não seja mais o mesmo, ou tu estejas impedido de realizá-lo em virtude de outra tarefa igualmente legítima.

Se, por outro lado, afirmas, no ato do pedido, tua incapacidade ou tua indisposição para realizar dada tarefa, diminuirás tua reputação e a disposição alheia em confiar-te tarefas outras, que talvez estivessem mais adequadas às tuas capacidades e ao teu desejo.

Esta reflexão é também aplicável nas ocasiões em que te peçam para lavar a louça de amanhã".

06 outubro 2009

submundo das tartarugas marinhas

Projeto Viramundo, Fernando de Noronha, 24/Julho/2008
Um dia li um texto do Borges que explicava que a primeira tartaruga que existiu, aquela que deu origem ao Planeta Terra, surgiu da luz da constelação de sagitário. Símbolo de longevidade, paciência, proteção, segurança. Era uma justificativa melhor do que a primeira que me lembro para o início da minha fixação por tartarugas.

Michelangelo foi o nome do meu primeiro gato siamês, lá pelos meus 8 anos, não em homenagem ao pintor renascentista, mas sim à tartaruga ninja de máscara laranja. Não tenho certeza o que foi causa e o que foi conseqüência, mas as ninjas passaram e as tartarugas permaneceram na forma de chaveiros, luminárias, bonecos, peças de artesanato.

É pena neste momento não termos uma câmera subaquática. As espécies são conhecidas, documentários e programas educativos sobre a vida marinha são abundantes, mas ficar cara a cara com as raias e nadar com as tartarugas tem sido experiências que eu gostaria de registrar.

O resto da equipe estava em Recife, perdida nas desconexões da Varig, enquanto eu e o Feijão, que desconfiamos desde o princípio da pontualidade da empresa, chegávamos em Noronha. A despeito da chuva que se anunciava, fomos para o Boldró, a praia mais próxima. E ali mesmo, sem máscara de mergulho nem nada, vimos a primeira tartaruga da viagem, emergindo a poucos metros de nós para respirar.

No dia seguinte veria mais uma, descansando num buraco em meio aos corais da Baía dos Porcos. Nesses primeiros encontros fiquei apenas paralisado, sem respirar. Foi aos poucos que comecei a acompanhá-las a distancia.

Hoje já não me sinto tão estrangeiro no mar e estou me acostumando a nadar na presença e no ritmo das tartarugas. Já fiz algumas amigas, como a famosa Mordidinha e duas de-pente juvenis (tartarugas que não atingiram a idade de reprodução e ficam nos arredores da Ilha se alimentando e ganhando peso antes de se jogarem numa corrente transoceânica qualquer), que volta e meia aparecem na Baia dos Porcos ou do Sancho.

Vejo com o encantamento de um pai diante do filho recém nascido as tartarugas-de-pente comendo águas-vivas e corais, respirando, tirando um relax nas pedras, ou só fazendo a ronda pelos corais com os peixinhos coloridos dando uma polida no casco. Se eu soubesse antes que a sistematização das informações coletadas com o acompanhamento destes seres poderia ser uma profissão, é possível que minhas escolhas fossem outras no passado.

05 outubro 2009

01 outubro 2009

garota esperta 5

A menina foi com o pai assistir a uma peça da nova namorada dele. Acabaram todos ficando mais um pouco, para o coquetel, ajudando no bar do teatro. Quando chegava um comprador, a garota se metia na frente do pai e logo perguntava:
- Uma breja? - e já deslizava a latinha pelo balcão.
- Quanto anos você tem? - perguntava o cliente.
- 11.
- Muito bem. É bom começar cedo, que logo aprende que não presta.
Uma hora ela foi na padaria do lado, buscar duas de cinco pra trocar uma de dez. O cara da padaria perguntou, enquanto dava o troco:
- O que você vai fazer quando crescer?
- Usar bota e fumar cigarro, que nem a Paulinha, a namorada do meu pai. Ela é atriz.