31 março 2010

Profecia # 1

Subdividir-se-ão as mentes humanas em janelas e abas e, como o camaleão, terão sempre cada olho focado num panorama diferente.

30 março 2010

almas impulsivas

Pessoas precipitadas como chuva repentina, folgadas que nem gato velho.

26 março 2010

quem soube sabe, quem não saiba se prepare

A experiência traz recursos e trejeitos, faz perceber que de outra pessoa se conhecem apenas uns traços.

23 março 2010

almas iracundas

Pessoas carregadas de animosidade, capazes de vilanias.

Propensas a explosões de cólera a título de coisas de nada.

tem coisa que fica melhor por escrito

Meu avô dizia que fetiche por mulher enxadrista só te traz derrota.

21 março 2010

General Materazzi - Fragmento # 5

Se não sabes fazê-lo, saiba quem sabe
"Um bom motivo para não afirmar de pronto a tua incapacidade para realizar uma tarefa que te foi solicitada reside no fato de que, ainda que não sejas capaz ou não desejes realizá-la pessoalmente, talvez haja, entre os de tua confiança, alguém a quem poderias delegar tal tarefa e que a realizaria de bom grado, ou que precise do trabalho.

Desta maneira, se a tarefa for realizada com êxito, a sua realização será em alguma medida associada ao teu nome e, por isto, te serão gratos.

Ao passo que aquele que a realizou, se devidamente reconhecido e pago pelo serviço, será igualmente grato a ti pela oportunidade de demonstrar seus talentos".

20 março 2010

18 março 2010

ditados e contraditados

Se, como esmola, recebesse o santo um bom cavalo, deveria, desconfiado, olhar-lhe os dentes?

17 março 2010

ditados e contraditados

Se não petisca quem não arrisca o pássaro que tem na mão, quantos pássaros voando no fim serão?

o escrito é do caderno, o falado é de quem ouve

Pra quem vem perguntar, eu digo que é mentira. Quem tava lá já sabe que aconteceu.

considerações sobre o plágio

Faz um tempo já desde que acredito que, por si, o fato de já ter sido dita uma frase no passado não retira a autoria de quem a diga num momento posterior. Mais objetivamente: frases são muito curtas para que se reivindique autoria.

O ineditismo reside na formulação inovadora, mas a partir de elementos já disponíveis e partilhados socialmente, como a linguagem, a história, algo como um inconsciente coletivo, etc. A invenção de uma mesma frase pode ocorrer em lugares e momentos distintos, sem que uma influencie diretamente a outra, mas antes sendo frutos de uma origem partilhada.

Probabilisticamente, é necessário produzir mais que aforismos para se reivindicar o título de autor. Ou, ao menos, que se produzam muitos (ou que se roubem vários), para que o conjunto forme uma obra em si, diferente da soma de suas partes.

Um autor poderia perfeitamente incorrer em plágio sem jamais saber que aquela mesma conjunção de variáveis já havia sido experimentada. As preocupações humanas são recorrentes através do tempo, o que torna possível o diálogo com o passado ao mesmo tempo que constantemente molda as possibilidades futuras, com a criação de novas necessidades, como a contratação de um personal ipoder.

Levando em conta que o conhecimento é uma construção coletiva, se existe algo que ainda não foi dito, escrito ou pensado, parece ser mais por falta de oportunidade ou de matéria prima do que pela ausência de algum grande talento individual que nos guie em meio às trevas.

A morte é a única certeza, e para além dela resta apenas o desejo de não ser esquecido (fuga do medo do fim), como expressa a velha tríade das realizações de uma vida plena: ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Ideais de reprodução cultural, afetiva e biológica.

Nessa perspectiva, o plágio é apenas mais uma dessas formas de perpetuação. Eu mesmo mal posso esperar que roubem algo que escrevi. Seria enfim um sinal de que vale alguma coisa. O aprendizado perdura à morte do mestre, caso o mesmo valha ser lembrado.

E com essa tal de internet, nunca foi tão fácil e rápido plagiar (compartilhar, difundir, divulgar, roubar) propriedade intectual. Gosto mais daquele papo romântico de que filhos, arte e ciência, depois de feitos, são do mundo, não de quem os fez (ainda que considere legítimo o trabalho dos cientistas, artistas e reprodutores que, por sua contribuição à humanidade, merecem receber o seu sustento material).

Nunca temeu-se tanto a perda do direito e do controle sobre as próprias criações. Parece-me inevitável. A alternativa seria guardar a sua obra-prima num cofre enterrado, numa espécie de desprezo mútuo pela contemporaneidade, e esperar que os escafandristas lhe descubram e lhe reconheçam algum mérito póstumo.

Ou simplesmente não produzir mais nada.

16 março 2010

elementos para uma teoria do amor estomacal

Existe uma filosofia de parachoque de caminhão que diz que a existência consciente, por si, é fonte de sofrimento.

Nesse contexto, a hipótese do direcionamento do foco dessa dor seria a maior liberdade possível ao ser humano que se encontra relativamente distante da esfera da escassez e da miséria.

Assim, considerando as condições biológicas para a manutenção da vida (determinantes no elenco de prioridades das atividades humanas), a dor de amor poderia ser considerada um indício de que as necessidades elementares (como a alimentação) estão satisfeitas.

Seria outra forma de dizer que quem ama é porque não passa fome, pois a barriga cheia vem primeiro, o resto mais tarde. Em outras palavras: o rango no bucho, depois o coração desperto. Ou ainda: quem sofre por estômago vazio não tem tempo pra ocupar o coração.

É claro que a amplitude e as consequências do sofrimento amoroso são insondáveis, mas, entre elas, a falta de apetite é um dos sintomas mais comumente reportados em situações de ausência do objeto amado. Existem registros na história, inclusive, de morte por inanição decorrente de dores de amor.

A equação se complica ainda mais quando se considera o tempo necessário para o surgimento do amor em oposição ao tempo que resiste o corpo humano antes que morra de fome.

Maiores estudos já estão em curso.

06 março 2010

amor sem correspondência

O risco do vício é a falta de meios para satisfazê-lo.

03 março 2010

ditados e contraditados

Como pode a qualidade ser mais importante que a quantidade, se só a prática leva à perfeição?

a autobiografia não autorizada contra o telefone sem fio

No fim, o que resta da pessoa que é única dona da versão sobre seus próprios atos?