Eu escutava inquieto o discurso da senhorita, minha coleguinha de curso, que explicava aos pais presentes, provavelmente leigos em assuntos acadêmicos, o quanto ela tinha aprendido no buteco do postinho nas quintas-feiras.
Ah, quantas lembranças... Quantas vezes ela teve de ensinar aos menos instruídos que o diploma que ela receberia naquela noite não era de "ciências políticas", ora vejam só, mas de Ciência Política, sem plural. Afinal, quem é do ramo sabe que ciência é uma só e política não é senão aquilo que ela tinha aprendido, entre uma e outra descoberta juvenil.
Enquanto ela falava, eu repassava mentalmente um discurso paralelo, mais ou menos o seguinte:
"Membros da mesa, colegas formandos, aquele abraço. Primeiramente, eu queria agradecer a Deus por ter me colocado numa boa família que, a muito custo, pagou os melhores colégios particulares caros para que eu tivesse o privilégio de estudar numa Universidade pública gratuita.
Agradeço também à UnB, que carimba de mérito o nosso passaporte para a vida adulta, tornando-nos distintos de todos aqueles que são explorados para que estejamos bem colocados nesta sociedade desigual.
Saúdo o movimento estudantil, a paridade nas eleições do reitor. E se a reputação desta Universidade tiver de ser jogada no lixo com cobranças indevidas de cerimonial e desvio de dinheiro destinado a pesquisa, que ao menos seja jogada numa lixeira de mil reais.
Para encerrar, senhor presidente, deixo aqui um beijo molhado para aqueles que tem pouca familiaridade com a palavra ironia. Obrigado".
2 comentários:
Essa do cerimonial eu não tinha ficado sabendo...
da série discursos que eu gostaria de ter feito
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