Em meio a tantas galáxias, o planeta terra girava em torno do seu próprio eixo, indiferente. Nele, vidas surgiam e findavam ciclicamente, alternando-se o dia e a noite.
Alheio a tudo isso, o cavalo negro captura a torre branca. Apenas jogávamos xadrez.
Naquele momento, tudo que extrapolava os limites do tabuleiro e de sua coerência matemática perfeita residia, para nós, no campo da não-existência.
Foi então que, sem aviso nem licença, foi-nos imposta uma trégua:
A gatinha preta que, deitada, nos observava, subitamente levanta, salta sobre a mesa e, demonstrando sua supremacia sobre mais aquele reino, pata ante pata, solenemente atravessa o campo de batalha, indo se deitar na poltrona no canto oposto da sala, perante os olhares impassíveis e paralisados dos dois exércitos.
Pisando apenas nas casas vazias, sem derrubar ou sequer tocar peça alguma, ela passou de orelhinhas franzidas e olhar blasé, na espécie de falsa indiferença daqueles que querem ser notados, mas jamais admitiriam, simplesmente porque isso implicaria no reconhecimento da existência do observador.
Aquele movimento (aparentemente gratuito, considerando-se os demais caminhos, talvez menos belicosos, para que ela chegasse àquela mesma poltrona) provava-nos não apenas que ela podia pisar onde desejasse, mas também evidenciava a nossa condição de humanos úteis, embora dispensáveis.
A nossa compenetração e o objeto de nossa disputa não tinham, para ela, qualquer significado, era o que diziam suas patinhas silenciosas e seu bigode petulante.
Numa existência sem acasos, como simboliza o rigor geométrico do tabuleiro, aquela teria sido apenas mais uma torre capturada pelo meu avô.
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