21 dezembro 2009

visões do mesmo

Fui ao psiquiatra. O cara me deu um questionário pra preencher, com perguntas do tipo "você se sente desvalorizado"?, "já pensou em suicídio"?, etc. Cada resposta "sim" pesava um ponto contra mim.

Nunca fui bom pra perguntas de sim ou não. Pior ainda quando são sobre o que sinto ou o que penso. Também nunca confiei em médicos. "Pensar em suicídio no sentido de algo que eu já vi acontecer perto de mim?, no sentido de um desejo, de uma possibilidade, de uma meta?, no sentido do último reduto do meu livre arbítrio?" - eu pensei, mas não existiam essas possibilidades no formulário. Pensei também se existia alguém que não se sentisse desvalorizado nessa sociedade de consumo. Enfim, foda-se. Sim ou não.

Custou caro a consulta, mas ganhei uma amostra grátis de Prozac. Parecia justo. Já no meio da caixinha, sentia que aquelas cápsulas retardavam meu tempo de reação pra vida. Alguém dizia alguma coisa, e eu tinha uma resposta, mas minha boca demorava a se mover. Era uma forma de evitar a impulsividade (vantagem pros destrambelhados, cujo primeiro ímpeto, em geral, não é o mais brilhante), mas minha mente permanecia ansiosa. Não curti a onda e parei com aquilo antes que aprendesse a gostar.

Em outra ocasião fui num terreiro de umbanda. A liturgia era bem diferente da do consultório psiquiátrico, mas a primeira consulta era grátis. O preto velho disse que eu precisava desenvolver a minha mediunidade e me deu uma pedrinha bonita, que era pra eu levar comigo sempre, uma proteção, mas que perdi logo depois.

Em comparação com a idéia de tomar um remédio que me distanciasse do mundo e atenuasse quimicamente minhas dores de consciência, desenvolver a mediunidade me pareceu válido. Mais por considerar todo aprendizado legítimo como forma de gastar a vida, do que por adivinhar o que estaria implicado naquelas palavras. Mas não fui muito além nesse processo também.

Semana que vem vou num culto evangélico neo-pentecostal. Talvez um exorcismo simples e direto resolva melhor minha situação. Só não sei como é a tabela de preços por lá.

2 comentários:

iury disse...

Demais!

Saulo Cruz disse...

Graaande texto, Cauêzão! Sou seu fã. Agora, sobre a raiva do sim e do não, vc pode conversar horas e horas com nosso dialético amigo, o André Negão.