23 novembro 2011

Notas submersas

Já estive são e sóbrio,
não a passeio,
mas certamente de passagem.

E, lá estando, tomei notas,
observando gente
que, então, agia igual a mim.

Não por um ímpeto etnográfico qualquer
ou pelo tipo de curiosidade mórbida
que precede a criação da poesia,

Mas, porque, de regresso, eu sabia,
logo seria preciso um manual da superfície,
uma bóia ou linha guia.

No caderno, frases borradas em letra corrida
lembram valores lá do raso
"firma o passo; sustenta o discurso; mantenha o controle".

Com meus desenhos à mão, diante do espelho,
esboço expressões copiadas de normalidade,
meios-sorrisos pacíficos anestésicos.

Escrevi também julgamentos que sofri
"você aí tentando se explicar,
e a pessoa já faz tempo que sacou a sua"

Acho que ela blefava,
mas o jogo era xadrez,
e a partida nunca foi terminada.

Outras sentenças roubadas,
entreouvidas de passagem,
sempre com pressa e sem certeza:

"Diferencia o romântico do canalha
o sofrimento de um e o cinismo do outro"
ou seria o contrário?

Oscilo entre extremos muito distantes
das notas que tomei
mas alguns ditos permanecem úteis:

"Continue respirando; 
podia ser pior; 
no final acaba".

Um comentário:

iury disse...

fantástico! masterpiece so far